Meu primeiro “troca troca” solidário

O dia estava chuvoso e a cama convidativa, mas eu acordei decidida e convenci meu marido em ir comigo. Ele estava receoso, mas topou. Eu não sabia direito o que levar, afinal, mesmo sem querer temos tantos itens supérfluos que fica difícil escolher. Sabia que roupas masculinas são os itens de maior necessidade, ai cai matando no armário do Luís, desencavei uma jaqueta de couro que em nossos 9 anos de casados ele NUNCA usou. Ele até tentou argumentar dizendo que estava novinha e ,….só piorou as coisas, pois se em 9 anos ela continua novinha é por que outra pessoa vai fazer melhor uso.

Fomos em direção ao bairro da Liberdade, anda daqui, pergunta ali e finalmente chegamos ao Viaduto do Glicério. Em princípio não é um lugar bonito aos olhos, mas logo ao chegar na porta da feira, já alegra o coração.
Fomos super bem recepcionados por um jovem voluntário, ele nos explicou como funcionava e nos direcionou para o Lastro. ( Ah !! se o nosso dinheiro ainda tivesse lastro real, talvez não estivéssemos nessa crise). O casaco de couro e as 4 camisetas que levei perfizeram o valor total de 15,00 Mirucas.

Modeda Social "Miruca"

Modeda Social "Miruca"

Uau, até que o casaco tava valendo.

Resolvemos então dar uma volta na feira. Infelizmente chegamos tarde e uma boa parte das barracas já estavam vazias, mas não iria sair de lá sem fazer uma “comprinha”, então, com minhas Mirucas, comprei 2 panos de pratos feitos por pessoas em situação de rua. Uma graça. Total = 5 Mirucas.

No palco, uma Joelma adaptada fazia a alegria da galera, cantando e dançando Calypso. A turma da rua não se “avexou” e caiu na dança. Nós estávamos tímidos, mas um simpático morador de rua veio puxar conversa. Foi muito bacana podermos ter essa troca humana também. Afinal, ainda existe muito preconceito com o morador de rua e poucos enxergam que talvez eles estejam nessas condições, não por opção e sim por necessidade.

E eu não perco a oportunidade de bater um papo.

Feira de Trocas

Feira de Trocas

Estava começando a chover, mas ainda compramos 2 fitas VHS ( E La nave va, do Fellini e Acerto Final, com o Jack Nicholson) é eu ainda tenho videocassete. Eu troquei por essas coisas, mas o bacana é que se pode trocar por comida também. Reparei que tinha café, arroz, feijão, suco, itens de primeira necessidade e ao alcance de quem realmente precisa.

Mas sobraram  7 Mirucas.

O que eu iria fazer com elas ? E qual não foi minha surpresa ao descobrir que poderia depositá-las no Banco, para ficarem lá guardadinhas esperando a minha próxima ida.

Depositando minhas Mirucas

Depositando minhas Mirucas

Adorei, principalmente porque o banco não pertence a nenhuma família Setúbal ou Moreira Salles, nem está listado na bolsa. Ufa !! isso dá mais confiança.

Mas para não perder o hábito perguntei se não iria render um jurozinhos….correndo o risco de ouvir: Claro que não “porca capitalista” isso é uma feira SOLIDÁRIA. Mas são todos muito educados.

Na” fila” do banco descobri que circula em média R$ 6.000,00 por feira e que tem a visitação de aproximadamente 700 pessoas.

Minhas Mirucas em boas mãos.

Minhas Mirucas em boas mãos.

Parabéns ao Felipe Bannitz e ao Cesar Matusmoto, ambos da Incubadora Tecnologica de Cooperativas Populares – ITCP- FGV e organizadores do evento.

Saldo da Feira: 2 panos de prato; 2 fitas VHS, alguém que precisa usando um casaco de couro “bacanudo”;   1 novo amigo e muita alegria no coração.

No mês que vem vô de novo….

Beijokas de Luz,

Luca